quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

I CAPITULO - Lembranças de "um meu" aniversário

Estranhamente sobressai um olhar gélido perante uma busca incessante de amigos, são 00:39 do dia 03 de Dezembro, o olhar gélido fazia navegar por entre as lembranças que o meu ser espalhou por entre os lençóis da cama. 03 de Dezembro, esta data marcou-me pela imensidão da sua natureza, esta foi a data que vivenciei demasiadas vezes o aniversário sem que o aniversariante não estivesse presente de corpo, desde que me lembro que a minha Mãe festejava numa alegria comedida o aniversário de nascimento do meu Avô! O meu Avô, é sobre ele que vagueio nas minhas lembranças de hoje... Hoje as lembranças levam-me como que fugindo desta data para um retrocesso, hoje as lembranças levam-me para o mês de Março!
26 de Março de 1999, o meu 14º aniversário, como qualquer criança o meu mundo nasceu florescido pelas magnificas cores da alegria, a minha mãe como sempre, acordará-me com um beijo doce mas com aquelas doces palavras "Parabéns filhotinho", saltei da cama completamente desnorteado, procurando todos os cantos da minha casa, procurando aquela alegria que simplesmente nascera sozinha com o dia! Era uma 6ª-feira, um dia de escola ao qual cumpria rigorosamente, da cozinha soltava-se o cheiro suave e apetecido dos doces preparados na véspera pela minha mãe, nos olhos o brilho mágico pelo pequenos almoço de mais um aniversário. 8:10, abre-se a porta, desço o primeiro vão de escadas e "Trimmmm Trimmmm", soava a campainha da vizinha de baixo, a porta range e ao abrir meio que apressadamente digo, "Bom dia D. Paula, o Paulinho?", certamente seria euforia a mais para aquela hora da manhã, mas como sempre a D. Paula tinha o sorriso estampado no rosto á minha espera! Saímos os três como que eternos amigos que nunca nos separaremos, Eu, o Paulinho e a Martinha, a mais nova de nós os três, descendo a rua e planeando a tarde mágica dos meus anos, um plano tão elaborado como qualquer plano da Nasa ou da CIA.
As horas passavam demasiadamente lentas para meu gosto, o relógio teimava em não fazer prosseguir aqueles segundos que pareciam eternos! Surge o som que suscitava a alegria por entre todos os alunos daquela escola, meu Deus, era o toque da saída. Todos corriam em direcção ao portão, todos tinham o seu motivo para correr mas hoje o meu era bem mais importante, o meu motivo é que hoje era dia de eu festejar o meu aniversário!
O Bolo de aniversário marcava os meus olhares, os dedos pediam para simplesmente trazer á língua aquele bocado que a meu ver estaria certamente a mais, mesmo que fosse apenas na minha consciência! Eram horas, o plano tinha que avançar, computador ligado, playmobis fardados para mais uma taça de futebol playmobill, Action Man a postos para as eternas guerras entre o bem e o mal, entre policias e ladrões... No computador o jogo mágico que viciou os jovens desde então Championship Manager ou "CM" para os mais radicais! O plano bem, esse deu furado, não foi nada como planeado, o meu melhor amigo desistiu e deixou-me completamente sozinho naquele momento de euforia, o meu mundo tinha terminado naquele instante, tinha-se acabado de abrir uma brecha no meu quarto do tamanho das que ocorrem quando existe tremores de terra... Já nada naquele aniversário fazia sentido, pensei eu, pensei, mas pensei errado. Naquele instante entra pela porta do meu mundo, uns cabelos grisalhos, magro e com aquele sorriso que jamais esquecerei, nisto solta-se "Avô", tinha acabado de chegar os meus avós, cheios de ternuras e histórias, tinha acabado de entrar na casa o cheiro caracteristico que não consigo descrever mas que também não consigo esquecer.
Tudo tinha começado a alegrar, mas ainda não era o que eu pretendia, os meus planos, eu tinha de seguir os meus planos! E com a caracteristica que sempre me definiu (Teimosia) pensei, com ou sem parceiro os meus planos para este aniversário são para seguir. Nisto sento-me no meu quarto completamente isolado do meu próprio aniversário e tento seguir os planos á risca... A porta abriu, sentou-se ao meu lado, e com aquela voz meiga de quem nos ama, escutei, "David, tens de ensinar como se usa isso ao Avô!"
A tarde desse dia, foi passado na aprendizagem do avô com o seu neto, de um jogo, sinceramente nada emotivo... Tudo estava diferente agora, os planos estavam a começar a ser concretizados e na companhia do meu avô!
Era o tão esperado fim-de-semana, corria como que tentando que o tempo fosse mais rápido do que era costume, e foi, o tempo passou a correr e consegui tempo com todo o fulgor para continuar os planos com o meu avô. Desta vez, a viajem era á Mata do Paraíso, uma mata cheia de histórias e fantasias que se pode contar, levei-o a viajar comigo numa dessas fantasias, nunca tinha viajado com o meu avô para lugar algum, mas naquele dia viajamos a todos os lugares que conseguimos, e os que não conseguimos deixá-mos lugar reservado para viajar mais tarde!
O fim-de-semana tinha começado como ouro em manto azul, tudo corria bem, e o meu avô fazia tudo o que nunca tinha feito comigo, parecia até que queria aproveitar aquele fim-de-semana para não deixar nada por fazer, como que se obrigando a si mesmo a conhecer o seu neto! O mundo virou das cores mais alegres que eu um dia conheci, o meu avô tinha-me ido ver jogar, e até ganhei!
O fim-de-semana acaba, um beijo, um até já, um adeus... Mais um abraço!
Nasce um novo dia, uma nova semana, 2ª-feira, a minha mãe sai louca com destino a Lisboa, eu impávido e inocente não percebo nada, não percebo o motivo de tanta euforia, ainda no fim-de-semana tinha acabado de fazer anos! A minha madrinha vêm me buscar á escola, não me recordo como mas sei que acabei por acabar na casa dos meus avós, o ambiente estava gélido e negro, confuso, continuava sem perceber o porque de toda aquela agitação... Como se nada fosse, junto com a minha prima mais nova, eis que deixo rolar a imaginação, um brinca da selva, uma brincadeira de programas de televisão. Faz calor, saio para a rua, não percebo o porque do meu avô não estar em casa a ver os desenhos animados aquela hora, enfim ele deveria ter certamente os seu motivos, mas mesmo assim saio, saio e saio de bicicleta, as horas continuam a passar, é noite e nem sinal de ninguém... Da minha janela oiço, "Álvaro vem já para casa!" respondo "Porque?" mas a convicção da ordem inicial manteve-se inalterado, "Vem já para casa!". Tudo estava ainda mais confuso, a minha irmã chorava agarrada ás minhas primas, a minha avó sofria desmedidamente, e eu, eu continuava sem saber o que se passava, aí, naquele instante a minha irmã agarra-me pelos braços e explica-me que o meu avô iniciou uma eterna viagem para um lugar muito melhor, para um lugar onde nos poderia guardar a todos.
Do que resta da noite já nada me lembra, possivelmente tudo se limitou a não ficar gravado por motivos óbvios, mas o que sei, e o que de pouco ou nada me conforta, são as lembranças do seu cabelo grisalho e do seu olhar e sorriso doce durante todo aquele fim-de-semana, a tentar fazer tudo o que nunca tinha feito, numa luta contra o tempo, em que, mesmo perdendo uma guerra, me desse a vitória de uma batalha, da batalha que hoje viajei na memória!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Prefácio

Olho um relógio cansado, são 01:44 o dia é 01 de Dezembro de 2009, inicio do feriado que tantos anseiam que chegue... Eu, eu permaneço deitado por entre os lençóis "polares" que me aquecem nesta noite fria. Permaneço deitado fixando um infinito mundo de lembranças que se apoderam do meu real raciocínio, chamarei de "as lembranças da minha cama", um nome complicado ou até mesmo concebido repentinamente que poderá nem sequer fazer qualquer sentido, mas a mim faz, faz porque é nesta cama coberta com os lençóis polares que vou divagar na lembranças, nas minhas lembranças!
Já percorri mais de 109500 dias, histórias, pesadelos, amores e desavenças. Nesses dias que já percorri já vivi um pouco de tudo, um pouco porque ainda não vivi tudo o que pretendo viver, mas é sobre esse pouco que irei simplesmente viajar nos pensamentos explorando as palavras com que os irei descrever!
Revejo o relógio, 01:54, o frio continua a apertar, o meu subconsciente continua a rebuscar todas as lembranças guardadas pelo infinito espaço do relembrar... voam as ideias simples e complexas, escuras e claras, voam as ideias de todos os tipos e feitios, de todos os sabores e pecados, de todos os segundos que vivi no espaço de 109500 dias!